O Frank Sinatra brasileiro não só era musicalmente genial, como tinha atitude. Comparável à Tim Maia e Zeca Pagodinho, a história da melhor voz que esse país já teve começou no Brás, em São Paulo, onde foi criado. Bastante impulsivo e violento, aos 16 anos foi campeão paulista de boxe na categoria peso-médio. Envolveu-se com a boemia e a música quando trabalhou como garçom no bar de seu irmão, na Avenida São João. Ao se mudar para o Rio, começou sua carreira de músico como crooner do Cassino Copacabana Palace.
Rodou o Brasil todou e fez alguns shows internacionais. Em Nova York, sua voz foi elogiada por ninguém menos do Frank Sinatra. No final dos anos 50 envolveu-se com cocaína, chegando a ser preso em flagrante. Sua vida pessoal parecia misturar-se aos dramas descritos em suas músicas. Nelson viveu e retratou plenamente a sua própria arte. Ele, que estudou muito música, tinha uma técnica acabada e completa em afinação, harmonia, respiração, tônicas e divisão de palavras. Nelson marcou para sempre os boleros, os tangos, os foxes e qualquer coisa que cantasse. Enobreceu a dor-de-cotovelo, fez do brega uma coisa chique de uma maneira pioneira, toda sua.
Nelson conseguiu reunir vários apelidos e títulos tais como, Rei do Rádio, Metralha (por ser gago), malandro, rouxinol, Frank Sinatra brasileiro, macho brasileiro, herói etc. Somente o tempo e o distanciamento histórico necessários para se entender melhor a dimensão e importância de Nelson Gonçalves para a música brasileira. Muita coisa precisa ser feita a seu respeito. Como ele mesmo disse, "sou uma espécie de dinossauro".
Escrevo aqui mais para homenagear esse peso-pesado da música do que para comentar de um album específico. No entanto, recomendo a coletânea em 3 volumes "50 Anos de Boemia". Para aqueles que não tem mente aberta, é verdade, Nelson Gonçalves não tem guitarras distorcidas, mas distorce a realidade cantando a boemia, a bebida e a orgia.
10/10
Destaques: A Volta do Boêmio, Naquela Mesa posted by Bruno Scartozzoni at 10:09 da tarde